quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O PLANETA DOS MACACOS, de Pierre Boulle, ou "Quem é o Primata Irracional?"




Por RICARDO CAVALCANTI



O Planeta dos Macacos desperta lembranças diferentes em cada um. Enquanto alguns se lembram do filme com Charlton Heston, outros já se recordam do realizado por Tim Burton em 2001. Os mais velhos ainda podem lembrar da série de TV, ou dos desenhos animados. Mas pouco se fala sobre a obra original. Aquela que foi responsável por nos apresentar a essa sociedade dominada pelos macacos. De certa forma, os filmes acabaram ofuscando um pouco o livro. Mas será que alguém precisaria ler o livro, depois de tantas adaptações para o cinema e TV? Será que alguma coisa de interessante ainda tinha a ser lida sobre o tema? A dificuldade em se conhecer a obra original, também ajudou a deixá-la perdida no tempo. Para nos salvar, a Editora Aleph resgatou o livro no limbo do esquecimento. Mas ainda existia a dúvida: será que mesmo assim vale a pena?


Será?

O francês Pierre Boulle escreveu uma história que se passa durante a segunda guerra mundial no livro A Ponte do Rio Kwai (lançado em 1952) tendo como base a sua experiência como combatente, quando atuou contra o avanço do exército nazista. Cinco anos após o lançamento, acabou ganhando uma respeitada adaptação para o cinema, vencedora de sete Oscar, incluindo os de melhor filme, melhor diretor e melhor ator. (Sim, você está certo. A inspiração para o nome daquela “brincadeira” que passa naquele rasteiro programa dominical, veio desse filme sim. A música assoviada durante o quadro, também é do filme).



Agora já consagrado, Pierre Boulle resolveu mudar de gênero literário, optando por contar uma história de ficção científica e o fez com uma facilidade (e qualidade) espantosa. Era nada mais, nada menos que "O Planeta dos Macacos". O livro fez um enorme sucesso e rapidamente atraiu mais uma vez a atenção de Hollywood, que não poderia deixar de se aproveitar do êxito de mais essa obra. Mas não vamos falar sobre as adaptações para outras mídias agora: Estamos elaborando um dossiê com tudo de relevante relacionado universo símio na cultura pop, em breve no Zona Negativa.


Dr. Gori e Karas nos ameaçaram, caso o dossiê não saia.


Por hora, vamos direto ao livro:


A história é narrada através da leitura de uma mensagem encontrada numa garrafa perdida no meio do espaço, escrita por Ulysse Mérou, tripulante de uma nave que está em uma missão de exploração espacial. Nela, ele conta suas experiências ao pousar no planeta Betelgeuse, junto com outros dois tripulantes. Pousando na superfície do planeta, percebem que é possível respirar normalmente e resolvem fazer o reconhecimento do local. Notam que existem muitas semelhanças com a Terra e logo descobrem um grupo de humanos com comportamento animalesco. Enquanto tentam se familiarizar com os nativos, são surpreendidos por gorilas agindo de uma maneira, até então, surpreendente. Montados a cavalos e com armas em punho, capturam alguns humanos (além de dois dos tripulantes). Após a confusão inicial, podemos perceber que, naquele planeta, quem evoluiu foram os macacos, enquanto os humanos não passavam de bestas selvagens.

Aos poucos, descobrem que nosso viajante espacial é um humano diferente dos outros. Enquanto vários cientistas o estudam para saber o seu grau de evolução e inteligência, Zira, uma das cientistas, acaba lhe dando um pouco mais de atenção, percebendo que ele é mais que um animal um pouco mais evoluído, ou apenas bem adestrado. Com o passar do tempo, os dois conseguem manter um contato maior, enquanto aprendem a se comunicar um com o outro. Sua existência é mantida em segredo para que seja revelado somente no momento certo. Nosso personagem principal acaba se encantando por uma humana selvagem, passando a chamá-la de Nova. Seus constantes pensamentos nela acabam, por vezes, influenciando em suas atitudes

Quando finalmente é revelada a existência de um humano que fala, com inteligência e capacidade de raciocínio, acaba desencadeando uma onda de conflitos de interesses, inveja, intriga e medo por parte de alguns. Enquanto uns consideram tal descoberta uma ameaça real à existência da sociedade dos símios, outros acreditam que ele pode ser o elo perdido na cadeia de evolução dos macacos.



Invertendo o ponto de vista, o autor aproveita para mostrar a crueldade com que os animais são tratados, colocando os humanos no lugar dos macacos como cobaias nos experimentos científicos. Seguindo a linha de raciocínio dos símios: “Não existe nada de errado em usar pessoas para os experimentos. Afinal de contas, são só humanos. Eles não pensam, não possuem sentimentos e só agem por instinto.”

O que nos define como humanos? A capacidade de raciocínio? A consciência da própria existência? Possuir uma alma? Caso tivéssemos um contato com um ser tão inteligente e desenvolvido quanto nós, como será que reagiríamos? Será que os aprisionaríamos e os trataríamos como aberração? Certamente não viveríamos em harmonia, pois não conseguimos fazer isso nem com nossos semelhantes.

Mesmo que você acredite que conhece bem a história e já sabe o final do filme, eu te digo: É bem diferente e vale muito a pena. As situações criadas passam muito mais credibilidade que nas várias adaptações que só utilizaram alguns (poucos) elementos apresentados no livro. A maioria só pegou o cenário de um mundo dominados por macacos sem explorar muito o potencial do argumento. A impressão que se tem é de que o “cenário” lhe parece familiar, mas a história é totalmente nova. Principalmente por conta do final, que me soa muito mais impactante e interessante que o do filme. O livro acaba nos deixando com um gostinho de quero mais. Infelizmente o autor não voltou ao planeta Betelgeuse. Pensando bem, talvez isso possa ter sido uma boa idéia.


ALERTA!!

Caso leia o livro, fique um bom tempo longe do filme de 1969. Chega a ser embaraçoso toda a transformação que fizeram com a história. Ver o personagem ser transformado no estereotipo de um típico americano - arrogante, sarcástico, valentão, bom de briga, garanhão e que é bom com armas de fogo - deixa a gente com um gosto ruim na boca. Ou será que eu estou errado e todos os astronautas são assim? Vai ver estou mal informado. Afinal de contas, se precisar pousar em algum planeta e tiver que sair na mão com alguns seres que vivem por lá, é bom estar preparado mesmo. O Capitão Kirk já mostrou diversas vezes que isso é necessário. Mas podemos encaminhar essa pergunta ao astronauta brasileiro Marcos Pontes. Ele saberia confirmar.

Cenas de perigos reais encontrados no espaço

Agora junte-se ao orangotango Clyde, à chimpanzé Chita e ao gorila Grodd, para acompanhar as aventuras nessa excelente história de ficção científica e torça para que eles não se unam contra você para te escravizar.






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